sábado, 22 de junho de 2013

"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante"

Olá.
Sempre odiei brigas. Odeio a violência. Não gosto de discussões por coisas inúteis. Por que estou dizendo isso? Qualquer um que não for alienado perante a situação do Brasil saberá responder. Sim, é por conta dos manifestos que se espalham pelo país que estou escrevendo. Tudo que penso é baseado em imagens e vídeos, além de textos, vistos na internet, pois não participo de manifestações.
Primeiro, vi em Porto Alegre algumas pessoas indo às ruas para protestar contra o aumento das passagens. Acompanhando um pouco do que colegas comentavam, vi que o povo tinha abraçado uma causa e feito algo por isso. Entretanto, ao ouvir que ônibus tinham sido pixados e atacados por aqueles que protestavam contra o aumento, logo pensei: que bando de idiotas! Pedem para abaixar o preço e depredam o bem que usam?? É tão difícil não destruir?
Bom, isso passou e fui levando a vida. Preço abaixou, mas alguns ainda queriam mais. Como bom alienado que sou, descobri na quinta-feira do dia 13/06 que havia uma onda de manifestações ocorrendo em São Paulo. Logo que vi o que tinha ocorrido, senti o medo de que um grande amigo fosse atingido por isso. De fato foi, mas não diretamente. Perguntando sobre o que ele viu nesse dia, falou-me o seguinte:  "estava na aula e tive que sair para comprar um material. Ao sair, só vi um bando de gente e a fumaça cobrindo tudo. Tive que voltar para a sala sem poder comprar, o gás deixou meus olhos vermelhos e minha garganta começou a irritar." 
Tá, São Paulo foi o primeiro passo que realmente me chamou a atenção. Nos dias seguintes, não consegui parar de ler notícias, ver vídeos e saber um pouco mais do que aconteceu lá. Cada coisa que eu lia era como se eu estivesse tomando um tiro de bala de borracha, como se fosse eu aspirando aquele gás lacrimogênio (com prazo de validade vencido ou não) ou até como se fosse eu a ouvir um policial me xingar ou jogar spray de pimenta na minha cara. "Sem violência", gritavam os manifestantes, gritava o meu coração ao ver as imagens. 
Passou os dias e só ouvia o pessoal comentar: "Segunda-feira será maior". Meu primeiro pensamento: tenho medo disso. Por quê? Pensei que se com certa quantidade de pessoas já houve grandes problemas, com uma quantidade maior só pioraria. Erro meu. Senti um grande orgulho ao ver o resultado, ao ver o povo unido num Brasil tão grande quanto é. Fazer jus a frases do próprio hino, cantá-lo no meio do manifesto, coisas que mexem com uma pessoa que até então acreditava que o país era completamente dividido e que poucas pessoas gostavam do hino do país. 
Achando que não tinha mais o que ver de diferente, engano-me novamente ao ver uma única imagem do protesto de quinta-feira: as pontes Colombo Salles e Ivo Campos, em Florianópolis, tomadas por manifestantes. Sei que conhecidos meus estavam lá no meio, vi a movimentação dos mesmos no facebook. Eu não esperava ver isso da minha cidade natal, foi uma surpresa que realmente me alegrou.
Cada manifestação mostra algo novo, mas quando chega perto do fim, fico triste ao ver as postagens nas redes sociais. Não pensem que é por estar chegando ao fim, mas sim por ver sempre o mesmo discurso: "Estava muito boa a manifestação, ATÉ OS VÂNDALOS COMEÇAREM A ATACAR.". Triste. Seres humanos com pensamento tão pequeno. Seres humanos acabando com patrimônio privado de gente que tanto batalhou para construir. Seres humanos sendo animais, seres irracionais. Triste. Gente inocente levando tiro e bombas. Vândalos ganhando espaço para atacar. Triste, somente isso.
Não sei porque eu escrevi isso aqui. Também não quero vir com discurso moralista falando do real sentido do manifesto e afins. Sei que o país tem muita coisa errada, mas sei que tudo pode mudar. Há poucos dias atrás eu não tinha esperança na mudança, achava que só ia ficar essa onda de protestos até acalmar e deu, voltarmos a ser o país da copa e comandado pela mídia. Finalmente me convenci: o país está mudando, ele irá melhorar. Não graças a mim, obviamente, mas graças aos que estão lutando por isso. Podem me julgar por não participar, mas não gosto de agitação demais e sei que o pacifismo da manifestação uma hora acaba. 
Por fim, posso dizer que isso tudo fez mudar muito a minha mente. Hoje, acredito mais no Brasil. Hoje, acredito mais na força de vontade do ser humano. Hoje, acredito mais no futuro. Claro que tem exceções, mas isso é a minoria, não conta para os meus pensamentos. Sei que nem tudo que se vê é verdade, sei que a ingenuidade impera em certos grupos desse país, mas também sei que isso mudará. É esse o pensamento que vejo na cabeça dos brasileiros: A mudança está ocorrendo. Nós somos a mudança. Apesar de tudo, não tiro a urgência de um outro fato: Querem mudar o país? Comecem mudando a si mesmos. Querem que a educação seja boa? Sejam educados então. De nada adianta pedir para o ensino público melhorar se o próprio aluno não tiver vontade de estudar, de aprender, de ser alguém na vida. A educação que tanto pedem deve começar em casa. Outros problemas como a saúde e a corrupção que sim, podem (e devem) ser vistos pelos governadores desse país. Meu único desejo agora é que essa mudança ocorra com paz, espero que seja possível.

Grande abraço,
Pedro Meyer!

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